"Quero ver, você não chorar, não olhar pra
trás, nem se arrepender, do que faz.
Quero ver o amor vencer, mas se a dor nascer você
resistir e sorrir...
Se você pode ser assim, tão enorme assim, eu vou
crer...
Que o Natal existe, que ninguém é triste, que no
mundo há sempre amor
Bom Natal, um feliz Natal,
Muito amor e paz pra você, pra você (pra você)."
http://www.vagalume.com.br/cancoes-de-natal/quero-ver.html#ixzz3MZSOJn40
Essa música, eu recebí há algum tempo, em uma época natalina, através de uma
mensagem enviada por uma grande amiga. Confesso que não ouví até o
final, pra falar a verdade, eu só ouví a introdução e
imediatamente desliguei. Ela com certeza teve a melhor de todas as
intenções, e eu a agradeço imensamente.
Mas acredito, que tanto eu como muitas
pessoas, associam algumas músicas à determinados momentos vividos. E essa é uma música
que eu definitivamente não posso ouvir...! Ela me remota a momentos
tristes da minha infância, onde eu me questionava sempre que ouvia essa canção no comercial de tv: "Se no Natal
ninguém é triste, se no mundo há sempre amor, se tudo é só
alegria...então onde está esse mundo que eu não faço parte dele?"
Não conhecí isso na infância. Mas se essa música
(hoje eu sei!) falava de tanta esperança, da vitória do bem sobre o
mal, força e apoio moral aos abatidos; de levantar a cabeça e
seguir adiante como um bravo guerreiro, porque isso não acontecia enfim? Pois afinal de contas, havia
chegado o final do ano, e ninguém poderia ser triste e nem pobre.
Mas essa esperança de tudo
acontecer como a música falava me angustiava...e ainda me persegue sempre que a escuto!
Crescí sim, acreditando na maior celebração
cristã, que é o aniversário de nascimento do Nosso Senhor
Jesus Cristo, nosso Salvador! Mas mesmo assim, pouco ou quase
nada ví dessa "celebração religiosa" nos lares que conheço, e nos
quais tive a oportunidade de conviver durante essas festividades
Natalinas. Via sim, preparativos para comes e bebes.
Claro, esse desejo de mudança e renovação não
eram explícitos ou visivelmente perceptíveis, mas todo aquele
alvoroço das compras nos supermercados (fartura) para uma mesa
repleta de comidas típicas do Natal (não na nossa!), a pintura nova nas
casas (renovação); a decoração com luzes de pisca-pisca (felicidade); a
compra de roupas e sapatos novos exclusivamente para a ocasião,
talvez fossem a expressão implícita da declaração "do
começo de um novo tempo" como falava a música, onde tudo seria diferente do que foi
até aquele momento. O desejo inconsciente de um futuro melhor, da
esperança de uma mudança de vida. Mas a espera interminável por tudo isso me angustiava.
Hoje, vejo e entendo essas celebrações de forma mais viva e real e creio, até com mais maturidade. Sei hoje, que é uma época de esperança, onde as pessoas tornam-se de certa forma mais sensíveis e tratam-se com mais irmandade. E acredito, que a base dessa celebração em qualquer parte do mundo é (ou pelo menos deveria ser) a reunião da família.
Aos que vivem à mais tempo fora do seu país de
origem, o Brasil por exemplo, independente de qual país more
atualmente, sabe que as Festividades Natalinas têm suas
peculiaridades e cada lugar celebra de acordo com as suas tradições,
bem diferentes da nossa no Brasil. Mas muitos que vivem fora, quando chega essa época do ano, têm algo em comum: a distância que os separa dos seus familiares, e a tristeza e nostalgia que envolvem essas festividades quando se está longe de casa.
Algumas pessoas que ainda não conhecem ou ainda não tiveram a oportunidade viver uma celebração de Natal em outro país, principalmente no período do inverno europeu, é preciso saber que não há como se comparar essas mesmas confraternizações, como as realizadas em países tropicais, onde à essa época do ano é verão, e as pessoas estão em sua maioria das vezes alegres, e essa temperatura é apenas favorável à uma celebração com mais calor.
No Brasil por exemplo, é comum as famílias se juntarem nessa época do ano e festejarem o Natal de forma alegre, com uma grande ceia, que algumas vezes costuma ser preparada com antecedência, seguindo-se de um grande churrasco, onde parentes que não se vêm há bastante tempo se reencontram para essa grande confraternização. É tudo tão cheio de vida, de luz, de cor e calor humano...Mas esse tipo de celebração, só ocorre porque há uma grande vantagem em se celebrar essa festa no verão. Onde lá fora a temperatura está agradável, colaborando para o bom humor e contribuindo e influenciando até mesmo nas roupas, que inspiram leveza... dando aquele sentimento de liberdade. No Brasil, a reunião familiar nos finais de semana ocorre com bastante naturalidade e porque não dizer com frequência, mas no final do ano, é algo especial, pois o Natal é considerado mesmo a festa da celebração das famílias.
Já o contrário, acontece nas celebrações em países onde as festas de fim de ano ocorrem no inverno. Posso dizer, que as diferenças na forma dessa celebração é mesmo cultural. Ou seja, o que esperar de uma celebração de Natal em um país onde as pessoas já são educadas para seguir o seu rumo e buscar a sua estabilidade financeira já bastante cedo?
Por exemplo, aqui na Alemanha, os filhos costumam buscar sua emancipação já logo que terminem a sua faculdade. Muitas vezes para conseguirem seus objetivos, são obrigados a deixarem a sua cidade e partirem para outros estados mais distantes, ou até mesmo em outros países. Muitas famílias incentivam seus filhos a crescerem dessa forma, buscando sua independência. Com o passar do tempo, esses retornos ou visitas à família tornam-se naturalmente cada vez mais raros. Muitos procuram se integrar à sua nova vida, e levam isso tão à sério que as comemorações natalinas em família passam consequentemente também a serem mais escassas.
Insistindo na questão cultural, aqui não há isso de viver todo mundo junto e misturado como no Brasil. Cada um procura seguir sua vida, e isso implica e explica um pouco a questão da solidão da velhice, e o abandono de muitos idosos nas casas de repouso ou mesmo em seus próprios lares. É interessante de ver como algumas pessoas fazem mesmo questão de viverem a sua individualidade, sua privacidade, e não abrem mao de ter a sua particularidade preservada, não fazendo questão de manter qualquer tipo de contato com os seus parentes. Às vezes isso me choca um pouco sim, e me faz lembrar o quanto ainda trago em mim do calor humano existente nas pessoas que vêm dos países latinos. Mas tão pouco quero taxar essas pessoas com estereótipos do tipo: "são frios" ou "são desumanos", mas prefiro sim, seguir com o entendimento de que isso também é uma questão cultural.
Claro, não quero dizer que isso seja uma regra, mas acontece com mais frequência do que se imagina.
O frio lá fora nessa época do ano é um grande adversário, pois ninguém irá querer se submeter à friagem. O melhor mesmo é se agasalhar e ficar bem pertinho da sua lareira, quem tiver uma, ou mesmo se aquecer com os aquecedores convencionais. Aqui nada ou pouco existe daqueles grandes encontros familiares na Noite de Natal. O que me alegra nesse dia, é que mesmo não havendo uma grande celebração, o principal não se perdeu no meio do caminho, que é a comemoração do aniversário do nascimento de Jesus Cristo. O ritual para esse dia começa com a realização da Missa da Noite Santa, que é realizada em horários diferentes (a principal é à meia noite como manda a tradição mundo afora!), mas em especial a celebração à tarde para as crianças, onde o ponto máximo é a interpretação da Bíblia com a chegada do Jesus Menino. Após a missa, as famílias vão para casa, para abrir os seus presentes, se confraternizarem com uma simples mas significativa ceia, e se divertirem com jogos interativos ou mesmo um bom filme.
*Aqui o comércio fecha às 14:00h e tudo parece triste e deserto. Já viví essa experiência logo que cheguei aqui, e narrei em um outro Post. Foi deprimente!
O mesmo serve para a comemoração da virada do ano. São poucas as famílias que comemoram com uma grande festa a entrada do Ano Novo. Raramente vemos isso na Alemanha, com exceção de algumas famílias que sofrem a influência da cultura de países onde essa data é celebrada com uma grande festa, incluindo-se aí músicas e danças de ritmos alegres e todos festejam grandemente. Caso contrário, apenas a queima de fogos, alguns canapés e um brinde com um espumante ou um champanhe faz notar a celebração do encerramento do ano.
Acho muito interessante que em grande
parte da Alemanha, o grande banquete do Natal, ao contrário do
que estamos acostumados no Brasil, não ocorre na noite do dia
24, mas no almoço do dia 25.
Na véspera do dia de Natal, nas famílias mais
tradicionais, o jantar baseia-se simplesmente em um purê
de batatas com linguiça assada; ou salada de arenque
(peixe parecido com sardinha) e batatas. So pra salientar, não há
uma explicação plausível para que seja assim, alguns falam que
pela praticidade, já que muitos trabalham nesse dia até de tarde, e
então não sobra tempo para muita coisa.
Uma curiosidade é que na Alemanha, além
do dia 25, também tem o dia 26 como feriado, porém, a
Igreja Evangélica, que tem bastante influência na
Alemanha estipulou esse dia como feriado, mas não vincula esse dia às celebrações do nascimento
do Cristo, senão como um dia em celebração à memória de
Santo Estéfano.
Uma outra questão que gostaria de mencionar, é a influência na decoração natalina brasileira. Algumas pessoas se questionam ou até mesmo se chateiam quando o assunto é a decoração e os símbolos natalinos que são usados para a decoração dessa festa no Brasil. Muitos acham que é "americanizada" e que não traz nada que lembre as raízes do lugar. Concordo até certo ponto, mas não tem nada de americanizada, pois a final de contas, os Símbolos Natalinos que usamos para a decoração, nada mais é que o produto da influência européia trazidas pelos alemães que foram morar na Américas do Sul e do Norte há muitos anos. Por exemplo, em minhas pesquisas, verifiquei que o Pinheiro de Natal, surgiu com a idéia de Martin Lutero, o fundador do Protestantismo, que segundo consta, após um passeio à noite na floresta, ficou tão encantado em ver o brilho das estrelas e os pinheiros cobertos de neve, que "resolveu" trazer pra dentro de casa aquela imagem que o seduziu. Pra isso, substituiu as estrelas por velas e a neve por algodão. Enfim, tudo é a criatividade. E nada impede de no Brasil, as pessoas usarem dessa mesma criatividade e usarem produtos e matérias primas regionais para fazerem sua própria e original decoração natalina.
O mesmo se dá com o tão festejado "Bom Velhinho", ou como tão bem conhecemos no Brasil o Papai Noel, que mundo afora tem tantos outros nomes, mas todos eles se referem originalmente a apenas um personagem: o Bispo Nicolau, que nasceu na Turquia há muitos anos, e era considerado um homem de muito bom coração, pois ele tinha o costume de ajudar os menos abastados, se escondendo à noite por trás de um capuz, e assim, aproximava-se das residências pobres nos pequenos vilarejos sem ser reconhecido e colocava saquinhos com moedas nas suas varandas. Com o passar dos anos, à ele foram atribuídos alguns milagres e a igreja Católica o canonizou, e ele hoje é o São Nicolau. A Alemanha o celebra festivamente no dia 06 de Dezembro, como sendo o dia em que as crianças limpam as suas botinhas, põem na entrada da casa e esperam receber no dia seguinte pela manhã, chocolates ou presentinhos caso tenham se comportado bem, ou ao contrário, recebem apenas uma pedra de carvão como "castigo". Claro, que esse castigo hoje pouco se aplica na realidade, sendo usado apenas como uma forma de "lembrar" as crianças ao longo de todo o ano, o que a espera caso sejam malcriadas.
Sobre o manto e o capuz vermelho, isso também faz parte da criatividade e foi implantado ao longo dos anos.
Mas ao meu ver, não há muita razão para alvoroços ou desinquietação, em relação às influências de outras culturas sobre as celebrações natalinas no Brasil, pois a final de contas, nada impede que as pessoas também usem de sua criatividade e tragam os produtos regionais para dentro de suas casas como artigos decorativos. No Nordeste brasileiro por exemplo, muitas pessoas já se utilizam das matérias primas regionais na confecção e montagem de Presépios Natalinos, ou até mesmo na culinária, trazendo para a Ceia de Natal um sabor mais regional, e não deixando assim, de celebrar da mesma forma.
Não posso deixar de mencionar, o quanto o
espírito de solidariedade nessa época do ano fica mais visível aqui também. E
acho que isso acontece em todas as partes do mundo. A cultura mundo afora sabemos que é bastante diversificada, mas quando o tema é o Natal, acredito que todas falem a mesma língua. Me alegra ver, que os seres humanos ainda não perderam o
que eu considero mais louvável, o amor e o respeito ao próximo, e
isso é o que une e aproxima as pessoas, independentemente de suas
origens. Em todas as partes do Globo, principalmente nas festas
Natalinas, cidadãos se unem em favor de uma mesma causa: ajudar
o próximo! Seja lá de que forma for, em pequenos grupos sociais; programas de
televisão; em comunidades envolvidas por uma religião,
seita ou doutrina, a finalidade será a mesma: de levar aos menos favorecidos mantimentos,
produtos de higiene pessoal, agasalhos, roupas e
calçados; ou o principal, que é um pouco do seu tempo e do amor que há em sí. E isso faz com
que ambos os lados saiam ganhando. Seria bom se
Ahhh como seria bom se o Natal fossem todos os dias!